Por Helton Haddad
A ascensão e a queda do planejamento estratégico já foram muitas vezes anunciadas, inclusive por autores de peso como Henry Mintzberg. Apesar disso, as empresas continuam realizando os seus planos estratégicos, buscando novas formas de planejar e efetivar o que foi planejado. São muitas as mudanças, mas aqui destacaremos um aspecto instigante: foi-se o tempo em que era possível se realizar um planejamento “top-down”, elaborado exclusivamente pela alta direção da empresa e imposto aos níveis hierárquicos subalternos sem questionamentos.
Há uma crescente exigência de participação. Constatamos que cada vez mais as empresas adotam alguma metodologia de planejamento que seja envolvente, motivadora e participativa, procurando fazer com que os colaboradores sejam ativos na elaboração e no desenho do planejamento.
Algumas empresas até chamam este processo de “planejamento participativo”, querendo indicar com isso que o planejamento não foi realizado de modo impositivo – ao contrário, seria fruto do envolvimento e das opiniões de todos, de modo a levar a empresa a resultados muito mais sólidos, já que todos “vestiriam a camisa” e se sentiriam “os pais da criança”, adotando assim o compromisso com a execução do que foi planejado. Mesmo em termos estratégicos esta abordagem também é interessante, na medida em que possibilita o surgimento de estratégias emergentes a partir das equipes que estão mais próximas do cliente final.
Apesar de bastante adequada, a abordagem participativa não é isenta de problemas. Nos clientes que assessoramos, usualmente encontramos algumas questões complexas para sua prática, exemplificadas a seguir:
- A filosofia da empresa combina com esta abordagem? A alta administração apoia o processo? Isso deve ser analisado com muito critério, pois nem toda empresa está preparada ou deseja esta participação (apesar de poder declarar este desejo para manter uma imagem “politicamente correta”);
- Quais serão as pessoas que participarão do planejamento? Envolveremos todos, ou apenas os líderes? A escolha dos participantes será baseada nos níveis hierárquicos? Envolveremos o pessoal do chão de fábrica também? E representantes comerciais autônomos que atuem de forma decisiva no negócio, serão convidados a participar? Sabemos de alguns casos de grandes empresas que conseguem envolver realmente todo o seu pessoal no planejamento, mas parece não ser a maioria. O mais usual é que este envolvimento ocorra no nível hierárquico gerencial, por vezes adotando grupos de trabalho com as respectivas equipes operacionais;
- A empresa dispõe dos recursos para efetivar o planejamento participativo e está disposta a empregá-los? Pois é de se esperar custos maiores no planejamento participativo, dadas as palestras, reuniões, seminários e videoconferências que serão necessárias. Sem contar o custo de algum tipo de consultoria externa (por vezes desejada para conduzir o processo) e o tempo que se demandará dos funcionários alocados;
- O consenso será atingido “a qualquer custo”? Dependendo do nível de conflito existente, para se chegar ao consenso tantas coisas devem ser negociadas que a possibilidade de se chegar a um acordo inócuo é real. Logo, as regras para decisões devem estar claras;
- A participação continuará na implantação? Dado o intenso ritmo das mudanças nos negócios, o planejamento deve ser atualizado com muito mais frequência. Deve-se avaliar se a disposição de mobilizar todos os envolvidos nestas revisões é factível.
Apesar da complexidade destas questões, vale frisar que a utilização de uma abordagem participativa no planejamento estratégico abre novas perspectivas para a utilização desta ferramenta tão criticada, mas ao mesmo tempo ainda tão usada. Talvez seja até uma das respostas dos nossos dias àqueles que buscam alternativas ao planejamento estratégico tradicional.